terça-feira, 27 de março de 2012

Instituições públicas capacitam e orientam seus servidores para a prestação de serviços públicos

A OCA é referência em atender o usuário com qualidade

Altair Mendes, Fátima Camilo e Ravenna Nogueira

Cara feia, falta de profissionalismo e educação estar com os dias contados. No mundo globalizado e na era das informações em que vivemos, o serviço público precisa se adaptar a uma sociedade mais informada e atuante acerca de seus direitos. Por esse motivo, visando otimizar o serviço público e melhorar sua qualidade, capacitações, oficinas, palestras e treinamentos tornam-se cada vez mais comuns neste setor.

A psicóloga Laura Aroeira acredita que as novas políticas de serviços públicos são consideradas tendências e que essas inovações requerem uma atenção na postura ética e humana do servidor público, já que, mais do que um atendimento capaz de suprir suas necessidades, o cliente precisa sentir-se relacionado com o ambiente, além de obter um bom tratamento.

A preocupação por um modelo de administração pública ágil e competente, inspirado no setor privado, parte de meados da década de 90, em que se buscavam melhores resultados e orientação dos servidores, principalmente, dos que atuavam com atendimento público. A Emenda Constitucional n° 19/98 já previa a inclusão do princípio da eficiência, hoje elencado no art. 37 da Constituição Federal que tece: “os órgãos públicos devem manter serviços de atendimento aos usuários com qualidade e presteza”.

Oca: referência em atendimento público

Para desmistificar a má qualidade no atendimento público, os gestores minimizaram as burocracias tradicionais e orientaram os servidores para o atendimento das necessidades dos cidadãos. Nesse novo cenário, aparece uma referência nessa quebra de estrutura conhecida como Organização em Centro de Atendimento (OCA), onde órgãos de todos os setores da administração pública e algumas privadas estão reunidos, visando à unificação e inovação na prestação dos serviços.

A bibliotecária Socorro Cordeiro, que utilizou por duas vezes alguns dos serviços oferecidos pela OCA, acredita que a organização é um diferencial, pois acaba com os deslocamentos desnecessários. “Antes, tínhamos que tirar xérox em um local, ver a documentação em outro e isso acarretava em maior perda de tempo”, declarou Flaviana Coimbra, historiadora.

Inspirada no modelo de atendimento europeu, a OCA - inaugurada em 2010, atingiu a estimativa prevista em sua implantação de integrar mais serviços e expandi-los para todas as esferas públicas como um novo modelo de atendimento.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Exemplo de reportagem interpretativa


O gênero interpretativo não é algo fácil de definir. Até estudiosos como Luiz Beltrão e José Marques de Melo discordam sobre o assunto. O primeiro considera um gênero específico do jornalismo (BELTRÃO, 1976) e o segundo classifica como reportagem em profundidade, pertencente ao gênero informativo (MARQUES DE MELO, 2003).

Quando um professor ensina ou pede tarefas sobre o assunto, o aprendizado também deve passar pela reflexão sobre a pertinência de classificar uma reportagem em profundidade como gênero específico. Para isso, podemos pensar nas características da reportagem em profundidade, na escolha do tema que permita ao leitor chegar a suas próprias conclusões, no enfoque a ser dado a determinados assuntos, na apuração variada e aprofundada dos dados, entre outros aspectos. A forma como a grande imprensa costuma abordar temas polêmicos – muitas vezes tomando partido de uma versão do fato – é um exemplo do que um jornalista não deve fazer e o contrário do que se busca na reportagem interpretativa.

Exemplos de reportagem interpretativa não são encontrados facilmente na imprensa brasileira. Mas existem, é claro. No livro As dez reportagens que abalaram a ditadura (organizado por Fernando Molica) há belos exemplos. Matérias políticas muitas vezes dão a possibilidade de abordar questões polêmicas, com diferentes visões implicadas, que permitem uma abordagem jornalística que amplie o conhecimento do leitor sobre o assunto do ponto de vista histórico, estatístico, com associações, analogias e depoimentos com diferentes posicionamentos.

Como matéria atual, para exemplo, foi escolhida uma matéria da revista Superinteressante sobre Chico Xavier. Na reportagem, um subtítulo de uma matéria coordenada dá o tom da interpretação: “Palavras do outro mundo? Fraude? Nem um nem outro. Para cientistas, a explicação pode estar num meio-termo.” A reportagem segue esta linha e permite ao leitor chegar a suas próprias conclusões. Vou pesquisar outras matérias e enviar ou postar links. Aceito outras contribuições dos alunos!

Superinteressante - Uma investigação: Chico Xavier

Há 100 anos nascia o homem que faria brasileiros de todos os credos acreditar na vida após a morte. Que mudaria a vida de famílias desconsoladas. E que colocaria a ciência atrás de respostas para as vozes do outro mundo. o mito Chico Xavier gerou tudo isso. mas o que gerou o mito chico xavier?

por Gisela Blanco. Com reportagem de Hellen Samantta em Foz do Iguaçu

Disponível em: http://super.abril.com.br/religiao/investigacao-chico-xavier-561667.shtml

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Um chimarrão que virou tereré

Por André Ricardo Mota dos Reis

No meio da sala de aula, observada pelos olhos indiscretos e atentos de acadêmicos de jornalismo, lá estava ela, por volta de 9h da noite, pronta para expor sonhos realizados e projetos que ainda são apenas sonhos. E porque não expor parte de sua vida agitada, mas tranquila, desde a pacata Pato Branco, no interior do Paraná, até uma mentira para a mãe que culminou na conquista de um espaço no corpo docente da Universidade Federal do Acre – UFAC?

Formada pela Universidade de Pato Branco desde julho de 2004, Aleta Dreves partiu para Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC) para distribuir currículos em empresas, jornais e agências de comunicação. “Tinha parentes nestas duas cidades. Ficava mais fácil distribuir os currículos e arranjar trabalho”, explica a professora. Nesta época, conheceu um estudante de comunicação da Ufac que lhe falou da carência de professores da área na instituição. O interesse em conhecer o Acre somou-se ao sonho de ser professora. Pela internet, Aleta inscreveu-se em um concurso para Ufac. Embora receptiva a propostas no ramo da comunicação e sócia de uma empresa fotográfica, ela almejava ser professora universitária. Ainda na graduação, a paranaense foi a única aluna selecionada para participar de um congresso de professores realizado em 2002, na Argentina. A partir dali, não se intimidou em produzir projetos na universidade voltados para a educaçao. “Eu não me via no rádio, na televisão. Eu me via na sala de aula”, pondera.

Naquele ano, Aleta foi aprovada em um concurso provisório no Estado do Acre. Ela lembra que logo que chegou no estado enfrentou dificuldades na adaptação com as diferenças culturais da região. “A culinária é muito diferente das que estava acostumada em Pato Branco. Tem também a mudança de clima. Aqui é sempre quente. Lá, não!”. De forma bem humorada, ela explica que, na sua terra, ao convidar alguem para o almoço, o término da refeição marcava o fim do encontro. Diferente dos convites para as casas dos acreanos, de onde não se tem hora para sair. Aleta declara sua paixão ao Acre e a tudo que conheceu e descobriu aqui na Amazônia. Com ar debochado e ao mesmo tempo envergonhado, ela confessa que, para vir ao Acre, teve de mentir para a mãe. “Eu disse a ela que tinha um emprego garantido aqui, para que ela não ficasse preocupada. Hoje ela mora comigo e sabe de toda a verdade”. Seguindo os dogmas da Umbanda, ela relata estima e amor a essa religião. “Minha igreja é ‘A Barquinha’. O Daime, o catolicismo e o espiritismo estão mesclados dentro dela. Amo tudo isso e não me vejo seguindo outros ensinamentos”, afirma.

Por ministrar técnicas de fotografia aos alunos, a professora sempre é questionada sobre como a fotografia faz parte de sua vida. “Sempre gostei de fazer exposição de fotos, mas o ‘ensinar fotografia’ veio com a Ufac”, ressaltou a jornalista. Produções de pesquisas acadêmicas na área da fotografia não são mais uma realidade em suas atividades. Hoje, sua área de pesquisa é Blog e Jornal Online. “Sou blogueira e quero desmistificar esse ‘negócio’ de que blog é diário de adolescente”, afirma. Para ela, a liberdade e a praticidade em um blog não impede os mais leigos de montar essa ferramenta para expressar conceitos e pensamentos, independente do respaldo na veracidade dos fatos e opiniões. “Você é livre para falar”, conclui.

Aleta Dreves é professora do quadro efetivo de docentes da Universidade Federal do Acre – UFAC e coordenadora do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Após voar de Pato Branco e mergulhar no Rio Branco, entre obstáculos superados, muitos passos dados e caminhos percorridos, a jornalista ainda vê bastante chão pela frente e continua traçando objetivos como sempre fez, na busca, agora, pelo mestrado e doutorado.

Reportagem perfil

Por Roberta Nunes e Aline Drago

“`Moça porque você vai trocar o pato pelo o rio?´ Essa foi a pergunta feita pela moça da rodoviária, quando estava comprando minha passagem para vir pro Acre”, conta Aleta Tereza Dreves, atual coordenadora e professora do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Acre, sobre a mudança de Pato Branco, Paraná, para Rio Branco. Formada em jornalismo na Faculdade de Pato Branco, ela é mulher respeitada no meio da comunicação, sinônimo competência e dedicação, blogueira e twittera.
A história de morar no Acre surgiu em 2004, durante o Intercom de Porto Alegre, quando conheceu um estudante acriano que lhe informou que haveria concurso para a área de interesse dela na universidade dele. “Desde minha graduação sempre quis dar aula. Todos os meus trabalhos e projetos na faculdade eram voltados para educação”. Do início ao fim da entrevista, Aleta deixa claro o seu desejo por ser professora.
Ela relata que sua área de pesquisa é blog e jornalismo online. “O blog entrou na minha vida pela vontade de ser blogueira. Montei meu blog em 2000. Queria tirar essa mistificação de que o blog é um diário de adolescente. Gosto do blog devido à liberdade, pois você não precisa ser um web designer para montar um blog ou escrever em um, qualquer pessoa pode fazer isso. Você pode expressar livremente seus pensamentos e idéias.” Ao visitar o twitter da jornalista e blogueira, uma frase chama atenção: “Eu sou alguém que tenta viver a vida como ela é...”
Durante a entrevista, é fácil perceber no falar, no vestir, que Aleta é uma pessoa que vive a vida com simplicidade, mas decidida diante dos planos e sonhos. “Sempre traço meus objetivos e agora o principal é meu estudo no mestrado e doutorado”.

domingo, 23 de maio de 2010

Perfil em sala de aula

Fizemos uma entrevista coletiva com a professora e coordenadora do curso de Comunicação Social da Ufac, Aleta Dreves, no começo do semestre letivo. Como exercício estavam a participação nas perguntas e a execução de um texto, individual ou em dupla, no formato de um perfil jornalístico. Dois foram selecionados e serão colocados no blog, na sequência desta postagem.

Um texto interessante sobre perfil no jornaismo, publicado no Observatório da Imprensa por Hérica Lene, em 2006, conceitua a reportagem-perfil e dá características e indicações de leituras de autores brasileiros que já escreveram sobre o assunto. Acesse aqui o texto, que é leve e didático, ótimo para quem quer aprender um pouco mais sobre como escrever perfis. A autora é jornalista, professora da Universidade Federal do Espírito Santo e doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Solidariedade como estilo de vida

Por André Ricardo Reis

Elisa Freitas é uma jovem que completou 28 anos de idade distante dos pais e amigos. Isto por que há pouco mais de um ano ela deixou o Acre e embarcou para a África do Sul numa missão humanitária e evangelística àquele povo. Hoje ela estuda inglês com pessoas de diferentes países e ajuda a cuidar de crianças em meio à miséria e injustiça. Em setembro deste ano, ela pretende retornar ao Brasil trazendo experiências que mudaram sua vida, como a construção de casas para famílias carentes e visitas a tribos nativas.

André Ricardo: Quando e como surgiu a idéia de abrir mão do conforto de sua casa, do aconchego dos amigos, de tudo que você conquistou profissionalmente e embarcar para um país com uma realidade de confrontos sócio-culturais eminentemente diferente da sua?
Elisa: Há mais ou menos seis anos. Mas naquela época tinha vários sonhos e projetos em mente, os quais cheguei a realizar, mas descobri que eles não me traziam satisfação plena. Foi aí que, numa conversa com minha amiga Simone Casas, descobrimos um desejo em comum: o de levar os ensinamentos bíblicos de paz, alegria e amor ao próximo às crianças carentes da África. Não somente como palavras faladas, mas vividas, tentando suprir de alguma forma o que eles nunca tiveram oportunidade de experimentar.


Tem muita gente envolvida neste mesmo ideal?
Estamos em uma Base Internacional da Jocum (Jovens com uma missão) na cidade de Worcester – South África. Os treinamentos para ir a campo são ministrados todos em inglês para pessoas de treze diferentes nações, com apenas três brasileiros. Não tem sido fácil, pois estou em período de adaptação. Agora não estou somente estudando o inglês, mas também aprendendo através do inglês. Acordo e durmo ouvindo inglês. Estou conseguindo acompanhar as aulas, mas minha comunicação com os demais estudantes, em inglês, ainda é um pouco difícil (risos). Eles falam muito rápido e tem diferentes pronúncias por serem de diferentes países. Mas é um projeto grandioso.


Você falou que este projeto envolve crianças carentes. Como funciona?
Temos cerca de 200 crianças. Tem sido muito difícil, pois eles não falam o inglês e vivem em um estágio de pobreza que eu nunca vi antes. Você não tem noção do que é trabalhar com estas crianças! É diferente de tudo que já vi na minha vida. Uma das crianças que temos cuidado, uma menininha de três anos, foi estuprada pelo vizinho (emociona-se). O maior problema é que agora temos que esperar o tempo para fazer o exame de HIV. Fiquei muito abalada. Depois descobri que duas meninas que estão na Base da Jocum junto comigo também sofreram abuso.

E o que as autoridades têm feito diante dessa situação?
Que nada! (em tom sarcástico). Aqui isso é normal. É como roubar um beijo. Quero muito ajudar a mudar esta história, mas tem horas que me sinto tão inútil que tenho vontade de voltar para casa. Ë muita coisa para fazer e pouca mão de obra.

De que forma você acha que pode ajudar?
No primeiro dia, quando me deparei com a realidade daquele povo, e principalmente daquelas crianças, confesso que fiquei muito mal e até chorei. Me senti uma inútil diante de tanta miséria, injustiças e eu não podia fazer nada para mudar. Este mês estaremos construindo dez casas pré-moldadas para ajudar dez diferentes famílias. E nós mesmos quem vamos construir (gargalhada). Pedra por pedra, tijolo por tijolo, até ficar pronta. Temos feito o que esta ao nosso alcance, mas não é o suficiente.

Além do trabalho com crianças carentes, você esteve em uma tribo nativa. Como foi esta experiência?
Passei uma semana em meio aos Maasi – uma tribo nativa da África. Foi cansativo, porém maravilhoso. Andamos bastante debaixo de um sol escaldante. Andar na África não é brincadeira. E com um detalhe: os nativos nunca cansam (risos). Eles andam o dia todo. A alimentação durante o dia não é boa, é apenas farinha com água. Mas pela noite o jantar é repleto de frutas e legumes locais, além de um mingau feito de milho. Quando chegamos à tribo foi uma loucura. Eles nos paravam querendo tocar e falar conosco, pois somos brancos e muitos deles nunca viram de perto um branco. E olha que eu nem sou tão branca! (risos) Foi divertido, mas há também a preocupação em se manter saudável. Temos andado em meio a muita sujeira. Muita mesmo! Isso sem contar com a malária que se espalha como a gripe.

Como essas mudanças culturais e sociais refletem em sua personalidade, caráter, visão de mundo? Seus conceitos foram revistos?
São muitas mudanças em minha vida. Estas alterações, por muitas vezes, trouxeram sentimentos de perda ao meu coração. Várias vezes senti que tinha perdido minha família, meus amigos, minha esperança, minha alegria, minha língua, minha personalidade, meu amor próprio. Não é fácil!

quarta-feira, 24 de março de 2010

"Poucos alunos da UFAC pensam jornalismo"

Por André Cezar

Estudante de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo e assessora de comunicação da Fundação de Cultura Garibaldi Brasil, Veriana Ribeiro tem apenas 20 anos e é de fato uma das jovens mais engajadas em políticas culturais no estado do Acre. Já trabalhou com produção cultural no Coletivo Catraia e como repórter na TV Aldeia. Embora tenha uma postura e uma participação adulta nas questões políticas, Veriana não perde um episodio de Skins – série que retrata a vida dos adolescentes londrinos. E é uma filha devota aos ensinamentos do pai, o jornalista Antônio Alves.

ANDRÉ CEZAR: Você tem apenas 20 anos, cursa jornalismo e tem participado das conferências municipais, estadual, e agora, da pré-conferência setorial de cultura em Brasília. Para você, qual a importância de termos jovens debatendo políticas públicas culturais?
VERIANA RIBEIRO: É importante não só para as políticas públicas de cultura, mas para o desenvolvimento de uma nação ter jovens debatendo. Os jovens trazem um pensamento diferente, ou pelos menos deveriam, pois eles têm uma visão mais atual e menos viciada. Eles acreditam que a situação pode melhorar, enquanto os mais velhos já estão muito desgastados pelo tempo e pelas as coisas que não deram certo. Somos utópicos e menos conformados. E é esse espírito que precisa estar presente nas discussões, não só culturais, mas sociais, financeiras...

Que análise você faz das conferências de cultura que vêm acontecendo no nosso estado?
As conferências do nosso estado – tanto a municipal quanto a estadual – mostram um certo avanço e maturidade dos produtores culturais, que debatem melhor e não se preocupam apenas com pequenas coisas. Ainda tem muita coisa para avançar. Os municípios ainda estão começando a se organizar. Mesmo com uma produção um pouco baixa, eles tem muita criatividade e muita coisa pra oferecer, mas ainda não conseguem mostrar isso para todo o estado. Ou nós não estamos dando a atenção que eles merecem. Rio Branco acha que cultura só existe em Rio Branco, e isso não é verdade. O que aconteceu na Conferência Estadual – os municípios elegeram mais representantes que a capital para a Conferência Nacional – é uma prova de que eles estão querendo ter suas vozes e estão se articulando para isso.

E o jornalismo no estado, qual a sua opinião sobre o material jornalístico produzido no Acre?
Não gosto muito. Temos ótimos jornalistas, excelentes jornalistas, mas que não atuam mais na área e acabaram virando gestores de bibliotecas e assessores. E o mais antigos que eles, que eram seus mestres, já não estão mais entre nós. E essa nova geração está muito pouco crítica. Ela precisa criticar mais, saber criticar. Não só criticar por criticar. Ela precisa saber perceber o contexto histórico, político e cultural antes de tecer alguma crítica, ou seja, uma crítica estudada. É isso que falta nos jornalistas: olhar um pouco para o passado, perceber o presente e se preparar para o futuro. E não fazer jornalismo apenas para agências de notícias.

Você é filha de um jornalista e agitador cultural muito reconhecido no estado, o Antônio Alves. As suas idéias e as de seu pai divergem muito ou vocês compartilham as opiniões?
Nós temos abertura para concordar ou discordar um do outro, mas na maioria das vezes a gente acaba concordando em discordar do resto do mundo (risos). Mas meu pai é um ótimo professor.

Recentemente você vem à frente da tentativa de formar um Centro Acadêmico (CA) no curso de jornalismo da Universidade Federal do Acre, onde você estuda. Como é o processo de formação de um CA? Como os estudantes enxergam essa iniciativa? E porque o curso ainda não teve um CA formado?
A questão do CA tem muitas coisas envolvidas. Primeiramente, os acadêmicos de jornalismo não vivem a universidade, não faz parte da vida deles. Eles vão à universidade à noite, assistem as aulas e voltam para casa cedo, porque tem que pegar o ônibus. O bloco é afastado, o curso é à noite, quando é perigoso andar pelo campus. Então, eles ficam isolados. As notícias chegam depois, ironicamente. O que acontece no centro da universidade não chega no bloco de jornalismo. Palestras e oficinas, os estudantes de jornalismo acabam descobrindo depois. Por esse não envolvimento, eles acabam não se interessando pelo CA, ou não sabendo o que é um Centro Acadêmico. Vários alunos com quem conversei não sabiam o que era um CA. E a universidade acaba não sendo um espaço estudantil de movimento social. É apenas um local onde eles realizam suas atividades para no final ter seu diploma, e depois seguir sua carreira. Eles não têm essa visão. E essa é a maior dificuldade. Nos últimos anos, algumas pessoas tentaram reivindicar seus direitos, e só aí descobriram que precisam de um CA. Mas ainda assim são poucas as pessoas no curso que entendem a importância do Centro Acadêmico. Mas a descrença com os movimentos sociais é uma coisa que está pegando todo mundo, não é só o movimento estudantil que passa por essa crise.

Você pretende ingressar na vida política?
(Risos). Não, não queria ingressar nem no CA! (risos)

Como você explica a falta de iniciativa dos estudantes na produção independente de material jornalístico na UFAC?
Pelo ambiente social que somos criados, fomos incumbidos de nos tornamos funcionários públicos. A sociedade capitalista não dá espaço a utopias. E as pessoas não percebem que jornalismo é ter uma consciência crítica e mostrar essa consciência, fazendo com que as pessoas pensem, reflitam ou discordem. Sempre digo que um bom texto é aquele que tenho abertura para discordar. E o jornalismo produzido precisa ser regulamente discordado, repensado, criticado. Mas, infelizmente, nem todos pensam assim. Na verdade, poucos alunos da UFAC pensam jornalismo.