segunda-feira, 24 de maio de 2010

Um chimarrão que virou tereré

Por André Ricardo Mota dos Reis

No meio da sala de aula, observada pelos olhos indiscretos e atentos de acadêmicos de jornalismo, lá estava ela, por volta de 9h da noite, pronta para expor sonhos realizados e projetos que ainda são apenas sonhos. E porque não expor parte de sua vida agitada, mas tranquila, desde a pacata Pato Branco, no interior do Paraná, até uma mentira para a mãe que culminou na conquista de um espaço no corpo docente da Universidade Federal do Acre – UFAC?

Formada pela Universidade de Pato Branco desde julho de 2004, Aleta Dreves partiu para Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC) para distribuir currículos em empresas, jornais e agências de comunicação. “Tinha parentes nestas duas cidades. Ficava mais fácil distribuir os currículos e arranjar trabalho”, explica a professora. Nesta época, conheceu um estudante de comunicação da Ufac que lhe falou da carência de professores da área na instituição. O interesse em conhecer o Acre somou-se ao sonho de ser professora. Pela internet, Aleta inscreveu-se em um concurso para Ufac. Embora receptiva a propostas no ramo da comunicação e sócia de uma empresa fotográfica, ela almejava ser professora universitária. Ainda na graduação, a paranaense foi a única aluna selecionada para participar de um congresso de professores realizado em 2002, na Argentina. A partir dali, não se intimidou em produzir projetos na universidade voltados para a educaçao. “Eu não me via no rádio, na televisão. Eu me via na sala de aula”, pondera.

Naquele ano, Aleta foi aprovada em um concurso provisório no Estado do Acre. Ela lembra que logo que chegou no estado enfrentou dificuldades na adaptação com as diferenças culturais da região. “A culinária é muito diferente das que estava acostumada em Pato Branco. Tem também a mudança de clima. Aqui é sempre quente. Lá, não!”. De forma bem humorada, ela explica que, na sua terra, ao convidar alguem para o almoço, o término da refeição marcava o fim do encontro. Diferente dos convites para as casas dos acreanos, de onde não se tem hora para sair. Aleta declara sua paixão ao Acre e a tudo que conheceu e descobriu aqui na Amazônia. Com ar debochado e ao mesmo tempo envergonhado, ela confessa que, para vir ao Acre, teve de mentir para a mãe. “Eu disse a ela que tinha um emprego garantido aqui, para que ela não ficasse preocupada. Hoje ela mora comigo e sabe de toda a verdade”. Seguindo os dogmas da Umbanda, ela relata estima e amor a essa religião. “Minha igreja é ‘A Barquinha’. O Daime, o catolicismo e o espiritismo estão mesclados dentro dela. Amo tudo isso e não me vejo seguindo outros ensinamentos”, afirma.

Por ministrar técnicas de fotografia aos alunos, a professora sempre é questionada sobre como a fotografia faz parte de sua vida. “Sempre gostei de fazer exposição de fotos, mas o ‘ensinar fotografia’ veio com a Ufac”, ressaltou a jornalista. Produções de pesquisas acadêmicas na área da fotografia não são mais uma realidade em suas atividades. Hoje, sua área de pesquisa é Blog e Jornal Online. “Sou blogueira e quero desmistificar esse ‘negócio’ de que blog é diário de adolescente”, afirma. Para ela, a liberdade e a praticidade em um blog não impede os mais leigos de montar essa ferramenta para expressar conceitos e pensamentos, independente do respaldo na veracidade dos fatos e opiniões. “Você é livre para falar”, conclui.

Aleta Dreves é professora do quadro efetivo de docentes da Universidade Federal do Acre – UFAC e coordenadora do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Após voar de Pato Branco e mergulhar no Rio Branco, entre obstáculos superados, muitos passos dados e caminhos percorridos, a jornalista ainda vê bastante chão pela frente e continua traçando objetivos como sempre fez, na busca, agora, pelo mestrado e doutorado.

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