quarta-feira, 24 de março de 2010

"Poucos alunos da UFAC pensam jornalismo"

Por André Cezar

Estudante de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo e assessora de comunicação da Fundação de Cultura Garibaldi Brasil, Veriana Ribeiro tem apenas 20 anos e é de fato uma das jovens mais engajadas em políticas culturais no estado do Acre. Já trabalhou com produção cultural no Coletivo Catraia e como repórter na TV Aldeia. Embora tenha uma postura e uma participação adulta nas questões políticas, Veriana não perde um episodio de Skins – série que retrata a vida dos adolescentes londrinos. E é uma filha devota aos ensinamentos do pai, o jornalista Antônio Alves.

ANDRÉ CEZAR: Você tem apenas 20 anos, cursa jornalismo e tem participado das conferências municipais, estadual, e agora, da pré-conferência setorial de cultura em Brasília. Para você, qual a importância de termos jovens debatendo políticas públicas culturais?
VERIANA RIBEIRO: É importante não só para as políticas públicas de cultura, mas para o desenvolvimento de uma nação ter jovens debatendo. Os jovens trazem um pensamento diferente, ou pelos menos deveriam, pois eles têm uma visão mais atual e menos viciada. Eles acreditam que a situação pode melhorar, enquanto os mais velhos já estão muito desgastados pelo tempo e pelas as coisas que não deram certo. Somos utópicos e menos conformados. E é esse espírito que precisa estar presente nas discussões, não só culturais, mas sociais, financeiras...

Que análise você faz das conferências de cultura que vêm acontecendo no nosso estado?
As conferências do nosso estado – tanto a municipal quanto a estadual – mostram um certo avanço e maturidade dos produtores culturais, que debatem melhor e não se preocupam apenas com pequenas coisas. Ainda tem muita coisa para avançar. Os municípios ainda estão começando a se organizar. Mesmo com uma produção um pouco baixa, eles tem muita criatividade e muita coisa pra oferecer, mas ainda não conseguem mostrar isso para todo o estado. Ou nós não estamos dando a atenção que eles merecem. Rio Branco acha que cultura só existe em Rio Branco, e isso não é verdade. O que aconteceu na Conferência Estadual – os municípios elegeram mais representantes que a capital para a Conferência Nacional – é uma prova de que eles estão querendo ter suas vozes e estão se articulando para isso.

E o jornalismo no estado, qual a sua opinião sobre o material jornalístico produzido no Acre?
Não gosto muito. Temos ótimos jornalistas, excelentes jornalistas, mas que não atuam mais na área e acabaram virando gestores de bibliotecas e assessores. E o mais antigos que eles, que eram seus mestres, já não estão mais entre nós. E essa nova geração está muito pouco crítica. Ela precisa criticar mais, saber criticar. Não só criticar por criticar. Ela precisa saber perceber o contexto histórico, político e cultural antes de tecer alguma crítica, ou seja, uma crítica estudada. É isso que falta nos jornalistas: olhar um pouco para o passado, perceber o presente e se preparar para o futuro. E não fazer jornalismo apenas para agências de notícias.

Você é filha de um jornalista e agitador cultural muito reconhecido no estado, o Antônio Alves. As suas idéias e as de seu pai divergem muito ou vocês compartilham as opiniões?
Nós temos abertura para concordar ou discordar um do outro, mas na maioria das vezes a gente acaba concordando em discordar do resto do mundo (risos). Mas meu pai é um ótimo professor.

Recentemente você vem à frente da tentativa de formar um Centro Acadêmico (CA) no curso de jornalismo da Universidade Federal do Acre, onde você estuda. Como é o processo de formação de um CA? Como os estudantes enxergam essa iniciativa? E porque o curso ainda não teve um CA formado?
A questão do CA tem muitas coisas envolvidas. Primeiramente, os acadêmicos de jornalismo não vivem a universidade, não faz parte da vida deles. Eles vão à universidade à noite, assistem as aulas e voltam para casa cedo, porque tem que pegar o ônibus. O bloco é afastado, o curso é à noite, quando é perigoso andar pelo campus. Então, eles ficam isolados. As notícias chegam depois, ironicamente. O que acontece no centro da universidade não chega no bloco de jornalismo. Palestras e oficinas, os estudantes de jornalismo acabam descobrindo depois. Por esse não envolvimento, eles acabam não se interessando pelo CA, ou não sabendo o que é um Centro Acadêmico. Vários alunos com quem conversei não sabiam o que era um CA. E a universidade acaba não sendo um espaço estudantil de movimento social. É apenas um local onde eles realizam suas atividades para no final ter seu diploma, e depois seguir sua carreira. Eles não têm essa visão. E essa é a maior dificuldade. Nos últimos anos, algumas pessoas tentaram reivindicar seus direitos, e só aí descobriram que precisam de um CA. Mas ainda assim são poucas as pessoas no curso que entendem a importância do Centro Acadêmico. Mas a descrença com os movimentos sociais é uma coisa que está pegando todo mundo, não é só o movimento estudantil que passa por essa crise.

Você pretende ingressar na vida política?
(Risos). Não, não queria ingressar nem no CA! (risos)

Como você explica a falta de iniciativa dos estudantes na produção independente de material jornalístico na UFAC?
Pelo ambiente social que somos criados, fomos incumbidos de nos tornamos funcionários públicos. A sociedade capitalista não dá espaço a utopias. E as pessoas não percebem que jornalismo é ter uma consciência crítica e mostrar essa consciência, fazendo com que as pessoas pensem, reflitam ou discordem. Sempre digo que um bom texto é aquele que tenho abertura para discordar. E o jornalismo produzido precisa ser regulamente discordado, repensado, criticado. Mas, infelizmente, nem todos pensam assim. Na verdade, poucos alunos da UFAC pensam jornalismo.

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